inconsistência contemporânea
quarta-feira, 22 de janeiro de 2014
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
"Para uma tradição que tudo sacrifica em nome de uma racionalidade específica coletiva -animale rationale - tais indicativos não são sintomas de grande saúde; antes indicam que a racionalidade exercida provém de outras fontes do que aquelas sugeridas pelo otimismo cínico ou ingênuo - a saber, provém de um impulso original de totalização absoluta do Ser forte em sua solidão [...] E é devido a esse impulso, prototipicamente 'racional' [...] que os atuais impasses da humanidade tornaram-se globais: por um sistema econômico que suga toda a energia da humanidade e a transforma em seu próprio combustível; por uma visão de mundo que fatalmente afogará a terra e a vida com o lixo que produz em nome do progresso, caso seu exercício insano não seja detido"
Ricardo Timm de Souza
Ricardo Timm de Souza
sábado, 21 de dezembro de 2013
Como é triste não poder ouvir o outro. Quão lamentável é a ironia do monólogo! Aquela ironia que passa por cima de tudo e todos, e que serve, em última instância, para alimentar o orgulho de si, a arrogância. Quando é que nós iremos nos colocar no lugar do outro? Não tenho mais ilusões quanto a isso, uma vida de pura afirmação de si é uma vida de orgulho e vaidade.
quinta-feira, 12 de dezembro de 2013
A filosofia hoje
A filosofia hoje é
estéril. Tão desnutrida quanto um choro abafado. O choro da dor: a dor de estar
vivo. Dor esta que racionalidade nenhuma pode dar cabo. Viver ainda é perigoso
e é uma pena que se tenha esquecido disso. A filosofia anda tão debilitada que
este divã em que me sento - embora isto seja talvez só mais um desabafo
irracional - parece ter mais valor do que o título de qualquer douto.
Arthur Falco de Lima
Essa filosofia hoje
se arrasta na lama do passado. Vive de restos, como porcos humilhados. A
filosofia hoje aquietou-se. Gritamos a nossos irmãos filósofos. Queremos negar
a eles os títulos, os livros de todas as respostas, a saúde do que é
tradicional. Queremos deixá-los doentes, loucos de insatisfação. Queremos
arrancá-los da lama, alçá-los ao posto de gente peregrina, gente que não sabe,
que não crê, mas que deseja, que busca. Queremos, enfim, fatiar o mundo.
Mostrá-lo em postas sangrentas, as fibras ainda trêmulas, para que eles, nossos
irmãos filósofos, abandonem o hábito de comê-lo sem lhe cheirar a morte. Sim,
respondo a você, meu caro amigo.
Enoque Marques Portes
Devemos dar vozes as nossas dores (também as tenho
e acho que muitas outras pessoas as têm, abafadas infelizmente pela pretensão
racional de abarcar tudo e todos em si mesma). Aquilo que a lógica do sistema
chama de irracional, na tentativa de o desqualificar em proveito do projeto
racional (desenvolvido na segmentação bur[r]ocrática, administrada, controlada)
é tão importante quanto o racional (as razões são plurais e não se fecham na
segmentação apresentada pelo sistema).
A dor da vida (coisa perigosa) expressa a percepção
de que algo está errado ou desenvolvendo-se de maneira injusta. E essa dor já
é, ela mesma, vida, razão que busca o além da clausura sistêmica e não se
deixa, como não é possível, reduzir-se à lógica do presente sistema. Dor que é
resistência, e se é resistência contra um sistema injusto ela possui muito mais
valor do que qualquer outra coisa.
Aládio Bruno
segunda-feira, 2 de dezembro de 2013
"Desde que eu estou no mundo" - este desde
me parece carregado de uma significação tão assustadora que ela se torna
insustentável.
Cioran
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
Sub-verso: ascensão decadente
Oira-me toda essa luz sapiencial academ-ística.
tão profunda quanto inútil.
tão esquadrejada quanto o domínio sutil.
Oira-me essa luz.
Tão límpida e com raios tão radiosos
quanto o fulcro fétido de eflúvios pantanosos.
Como me alegro nessa ambiência tão sublime.
Aqui, livremente adaptado,
como um pássaro engaiolado.
Alço tremendos vôos insuflado por essa excelsa luminescência:
administrada, emburrecedora...
De poleiro em poleiro, na gaiola,
os vôos são sempre altivos
qual fabuloso flâneur constrito.
Já não mais oira-me.
Oiro-me como a própria luz.
Essa luz tão profunda...
Poema de Aládio Bruno
tão profunda quanto inútil.
tão esquadrejada quanto o domínio sutil.
Oira-me essa luz.
Tão límpida e com raios tão radiosos
quanto o fulcro fétido de eflúvios pantanosos.
Como me alegro nessa ambiência tão sublime.
Aqui, livremente adaptado,
como um pássaro engaiolado.
Alço tremendos vôos insuflado por essa excelsa luminescência:
administrada, emburrecedora...
De poleiro em poleiro, na gaiola,
os vôos são sempre altivos
qual fabuloso flâneur constrito.
Já não mais oira-me.
Oiro-me como a própria luz.
Essa luz tão profunda...
Poema de Aládio Bruno
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Tese: A razão é um fato
cultural. Assim como vários animais – os mamíferos, por exemplo – extrapolam o
instinto de mera sobrevivência e promovem atividades culturais, o homem, por
sua vez, ao extrapolar seus instintos inventou a razão. A razão, embora vários
filósofos defendam o oposto, não é um órgão que tenha regras determinadas,
muito menos regras determinadas a priori.
Ela surge em última instância, da convivência social entre os homens, e tem,
portanto, na cultura todo seu alicerce.
1ª consequência:
Aqueles que julgam que a razão é um órgão com funções e regras determinadas se
comportam como se a raça humana não fosse completamente animal. A razão, embora
eles não o admitam abertamente, confere o aval para justificar qualquer coisa -
isso Camus bem nos alertou -, e serve inclusive para justificar uma pretensa
superioridade. Não somos meros animais. Somos animais racionais. Mas o que isso
quer de fato dizer? A resposta parece ser sempre metafísica, que é, diga-se de
passagem, mais um artifício racional.
1ª observação: A ironia
disso tudo é que o animal humano criou um fato cultural que tomou
historicamente a forma de razão, mas acha que o próprio fato cultural extrapola
sua animalidade. O homem se torna assim, com a ajuda da razão, justificadamente
superior aos outros animais. E o pior, não se torna culturalmente superior, mas
sim ontologicamente superior. Mas o que é uma ontologia senão uma justificativa
racional do mundo? O homem pensa que não é totalmente animal. E esse é o
tribunal da razão: o pensamento, o juízo.
2ª consequência: Os
partidários da razão fazem constantemente uma ciência que eles chamam de
metafísica. Fazem metafísica da razão. Fazem crítica da razão. Alguns chegam ao
absurdo de fazer crítica da razão pura, o que é obviamente um gênero mais “refinado”
de metafísica. Quais os limites da razão pura? A lógica é regra necessária da
razão? Estes são exemplos de suas preocupações. Estas são suas ilusões.
2ª observação: O que é essa faculdade, esse órgão, nomeado de razão?
Essa pergunta nunca foi respondida satisfatoriamente, talvez porque tenha nela,
a razão, a sua própria origem. A pergunta correta talvez fosse: quando
surge a cultura da razão entre os homens?
3ª consequência: A
razão, como já disse, é fruto do convívio social, é fruto da cultura. Porém, a
crença cega na razão, gera nos homens algo pouco detectável nos outros animais:
a insociabilidade aguda, o extremo egoísmo, a capacidade de fundamentar sua
própria tolice.
3ª observação: Isso
gera problemas angustiantes aos outros animais, humanos ou não, como a fome, a
guerra, o sofrimento.
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