A filosofia hoje é
estéril. Tão desnutrida quanto um choro abafado. O choro da dor: a dor de estar
vivo. Dor esta que racionalidade nenhuma pode dar cabo. Viver ainda é perigoso
e é uma pena que se tenha esquecido disso. A filosofia anda tão debilitada que
este divã em que me sento - embora isto seja talvez só mais um desabafo
irracional - parece ter mais valor do que o título de qualquer douto.
Arthur Falco de Lima
Essa filosofia hoje
se arrasta na lama do passado. Vive de restos, como porcos humilhados. A
filosofia hoje aquietou-se. Gritamos a nossos irmãos filósofos. Queremos negar
a eles os títulos, os livros de todas as respostas, a saúde do que é
tradicional. Queremos deixá-los doentes, loucos de insatisfação. Queremos
arrancá-los da lama, alçá-los ao posto de gente peregrina, gente que não sabe,
que não crê, mas que deseja, que busca. Queremos, enfim, fatiar o mundo.
Mostrá-lo em postas sangrentas, as fibras ainda trêmulas, para que eles, nossos
irmãos filósofos, abandonem o hábito de comê-lo sem lhe cheirar a morte. Sim,
respondo a você, meu caro amigo.
Enoque Marques Portes
Devemos dar vozes as nossas dores (também as tenho
e acho que muitas outras pessoas as têm, abafadas infelizmente pela pretensão
racional de abarcar tudo e todos em si mesma). Aquilo que a lógica do sistema
chama de irracional, na tentativa de o desqualificar em proveito do projeto
racional (desenvolvido na segmentação bur[r]ocrática, administrada, controlada)
é tão importante quanto o racional (as razões são plurais e não se fecham na
segmentação apresentada pelo sistema).
A dor da vida (coisa perigosa) expressa a percepção
de que algo está errado ou desenvolvendo-se de maneira injusta. E essa dor já
é, ela mesma, vida, razão que busca o além da clausura sistêmica e não se
deixa, como não é possível, reduzir-se à lógica do presente sistema. Dor que é
resistência, e se é resistência contra um sistema injusto ela possui muito mais
valor do que qualquer outra coisa.
Aládio Bruno
Nenhum comentário:
Postar um comentário