Oira-me toda essa luz sapiencial academ-ística.
tão profunda quanto inútil.
tão esquadrejada quanto o domínio sutil.
Oira-me essa luz.
Tão límpida e com raios tão radiosos
quanto o fulcro fétido de eflúvios pantanosos.
Como me alegro nessa ambiência tão sublime.
Aqui, livremente adaptado,
como um pássaro engaiolado.
Alço tremendos vôos insuflado por essa excelsa luminescência:
administrada, emburrecedora...
De poleiro em poleiro, na gaiola,
os vôos são sempre altivos
qual fabuloso flâneur constrito.
Já não mais oira-me.
Oiro-me como a própria luz.
Essa luz tão profunda...
Poema de Aládio Bruno
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
Tese: A razão é um fato
cultural. Assim como vários animais – os mamíferos, por exemplo – extrapolam o
instinto de mera sobrevivência e promovem atividades culturais, o homem, por
sua vez, ao extrapolar seus instintos inventou a razão. A razão, embora vários
filósofos defendam o oposto, não é um órgão que tenha regras determinadas,
muito menos regras determinadas a priori.
Ela surge em última instância, da convivência social entre os homens, e tem,
portanto, na cultura todo seu alicerce.
1ª consequência:
Aqueles que julgam que a razão é um órgão com funções e regras determinadas se
comportam como se a raça humana não fosse completamente animal. A razão, embora
eles não o admitam abertamente, confere o aval para justificar qualquer coisa -
isso Camus bem nos alertou -, e serve inclusive para justificar uma pretensa
superioridade. Não somos meros animais. Somos animais racionais. Mas o que isso
quer de fato dizer? A resposta parece ser sempre metafísica, que é, diga-se de
passagem, mais um artifício racional.
1ª observação: A ironia
disso tudo é que o animal humano criou um fato cultural que tomou
historicamente a forma de razão, mas acha que o próprio fato cultural extrapola
sua animalidade. O homem se torna assim, com a ajuda da razão, justificadamente
superior aos outros animais. E o pior, não se torna culturalmente superior, mas
sim ontologicamente superior. Mas o que é uma ontologia senão uma justificativa
racional do mundo? O homem pensa que não é totalmente animal. E esse é o
tribunal da razão: o pensamento, o juízo.
2ª consequência: Os
partidários da razão fazem constantemente uma ciência que eles chamam de
metafísica. Fazem metafísica da razão. Fazem crítica da razão. Alguns chegam ao
absurdo de fazer crítica da razão pura, o que é obviamente um gênero mais “refinado”
de metafísica. Quais os limites da razão pura? A lógica é regra necessária da
razão? Estes são exemplos de suas preocupações. Estas são suas ilusões.
2ª observação: O que é essa faculdade, esse órgão, nomeado de razão?
Essa pergunta nunca foi respondida satisfatoriamente, talvez porque tenha nela,
a razão, a sua própria origem. A pergunta correta talvez fosse: quando
surge a cultura da razão entre os homens?
3ª consequência: A
razão, como já disse, é fruto do convívio social, é fruto da cultura. Porém, a
crença cega na razão, gera nos homens algo pouco detectável nos outros animais:
a insociabilidade aguda, o extremo egoísmo, a capacidade de fundamentar sua
própria tolice.
3ª observação: Isso
gera problemas angustiantes aos outros animais, humanos ou não, como a fome, a
guerra, o sofrimento.
sexta-feira, 22 de novembro de 2013
Há crimes de paixão e crimes de lógica. O código penal distingue um do outro, bastante comodamente, pela premeditação. Estamos na época da premeditação e do crime perfeito. Nossos criminosos não são mais aquelas crianças desarmadas que invocam a desculpa do amor. São, ao contrário, adultos, e seu álibi é irrefutável: a filosofia pode servir para tudo, até mesmo para transformar assassinos em juízes.
Heathcliff, em O morro dos ventos uivantes, seria capaz de matar a terra inteira para possuir Kathie, mas não teria a idéia de dizer que esse assassinato é racional ou justificado por um sistema. Ele o cometeria, aí termina toda a sua crença. Isso implica a força do amor e caráter. Sendo rara a força do amor, o crime continua excepcional, conservando desse modo o seu aspecto de transgressão. Mas a partir do momento em que, na falta do caráter, o homem corre para refugiar-se em uma doutrina, a partir do instante em que o crime é racionalizado, ele prolifera como a própria razão, assumindo todas as figuras do silogismo. Ele, que era solitário como o grito, ei-lo universal como a ciência. Ontem julgado, hoje faz a lei.
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Atualmente, o laboratório da ciência apresenta um retrato da economia contraditória. Esta é altamente monopolística e mundialmente desorganizada e caótica, mais rica do que nunca e, ainda assim, incapaz de remediar a miséria. Também na ciência surge uma dupla contradição. Em primeiro lugar, vale como princípio que cada um dos seus passos tem uma base de conhecimento, mas o passo mais importante, ou seja, a definição de sua tarefa, carece de fundamentação teórica e parece entregue à arbitrariedade. Em segundo lugar, a ciência é incapaz de compreender na sua vivência real a relação abrangente de que depende sua própria existência e a direção do seu trabalho, isto é, a sociedade.
Horkheimer
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
Ser consistente é um contrassenso ao fato de sermos humanos. A consistência pertence ao mundo animal, à não consciência. A desgraça,então, consiste em um fato simples: nós, seres humanos, de fato não nos consideramos como animais. Queremos ser inconsistentes o tempo todo e a justificativa disso não é diferente de qualquer outra que bravejamos com orgulho: somos racionais, somos donos razão! O que é essa faculdade, esse órgão, nomeado de razão? Essa pergunta nunca foi respondida satisfatoriamente, talvez porque tenha nela, a razão, a sua própria origem.
sábado, 9 de novembro de 2013
Ouço o trem. Ele se vai ao longe, não sei para onde. Um dia não haverá mais trem, não se falará mais disso, ninguém poderá escutá-lo não importa o lugar. Mas hoje - já é noite - ainda posso ouvi-lo. Estamos sós, eu e o som. Minha cadela, ao meu lado, que antes chorava, agora dorme. Ela odeia ficar só por muito tempo. Alguns minutos, e tudo bem, eu, ela, e o barulho do trem.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
O que é a antropologia?
Tim Ingold, um antropólogo inglês, tem uma bela definição: Anthropology
is philosophy with the people in. A antropologia é filosofia que não deixa as
pessoas de fora, que aborda os problemas tais como se colocam na realidade dos
que os colocam e os vivem. A fórmula se aplica bem a Lévi-Strauss.Ele teve o
mérito de não cortar o vínculo entre antropologia e filosofia – embora dissesse
o contrário. Ele tomou suas distâncias em relação à filosofia, mas faz
constantemente filosofia por intermédio da sua antropologia. Ele utiliza a
antropologia como uma máquina de guerra contra a filosofia, o que é, afinal de
contas, um projeto filosófico. Nele, o retorno às coisas mesmas não passa pela
fenomenologia, mas pela etnologia. É preciso ir longe para voltar às coisas mesmas.
Eduardo Viveiros de Castro
Eduardo Viveiros de Castro
segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Antes de tudo, é preciso escrever. É preciso anotar cada opinião, cada inutilidade, cada pensamento vão. A verdadeira expressão é aquela que insiste, que se repete, que não se acovarda. Sobretudo, prefira o papel à tela do computador. Digite tudo depois se quiser, mas antes escreva, por quê? Porque sim! Ou porque alguns hábitos não devem se apagar com o tempo.
sábado, 2 de novembro de 2013
As maiores dificuldades práticas dos homens e da humanidade:
1 - Admitir para si mesmo seus próprios erros.
2 - Aprender com seus próprios erros.
3 - Viver de forma coerente.
4 - Assumir a responsabilidade das suas próprias escolhas/atos.
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